Artigo – Vacinar ou não, eis a questão

Na semana em que o Brasil deu início à vacinação contra a Covid-19 para crianças de 5 a 11 anos, não por acaso o título deste artigo faz referência ao dramaturgo inglês William Shakespeare, no famoso monólogo em que Hamlet questiona vida e morte, de forma profundamente filosófica.

Entre o final do século XVI e o início do século XVII, época em que o escritor viveu, o mundo ainda passava por recorrentes surtos da Grande Peste, que no século XIV dizimou um terço da população europeia. Nesse período, as únicas medidas de proteção contra o contágio de doenças eram o uso de máscaras e a quarentena. Relatos históricos afirmam que o próprio Shakespeare passou por isolamento.

Os importantes avanços que tivemos na ciência e na medicina nas ultimas 12 décadas diminuíram a mortalidade e propiciaram um salto na expectativa média de vida da população mundial.

Desenvolvimento social e econômico, água tratada e saneamento básico estão entre os principais fatores que nos permitiram viver por mais tempo e com mais qualidade.

Foi um marco para a humanidade, em termos de saúde pública, o desenvolvimento das vacinas, iniciado ainda no século XVIII, durante uma epidemia de varíola.

Segundo dados da ONU, de 2000 a 2019, as vacinações em países de média e baixa renda evitaram 37 milhões de mortes, e esse número pode aumentar para 69 milhões até 2030. Estima-se que a maior parte desse impacto ocorra entre crianças menores de cinco anos, principalmente devido às vacinas contra o sarampo, o rotavírus e a hepatite B.

Estamos, desde o início de 2020, em uma incrível guerra contra um vírus que, no mundo todo, já matou mais de 5 milhões de pessoas e no Brasil ceifou a vida de cerca de 620 mil. Dentre os mais de 22 milhões de casos no País, o número de mortes só não foi maior graças ao trabalho incansável dos profissionais de saúde, aos investimentos na estrutura de atendimento, ao nosso SUS e à vacina.
A resposta da ciência foi impressionante. Passados dez meses desde o início dessa tragédia mundial, a primeira vacina já havia sido desenvolvida no Reino Unido e as primeiras pessoas já estavam sendo vacinadas.

No Brasil, o Governo Federal e o governo do Estado de São Paulo tiveram iniciativas decisivas e fizeram acertados e altos investimentos, tanto no Rio de Janeiro, na Fundação Oswaldo Cruz, quanto em SP, no Instituto Butantan, para que tivéssemos a vacina contra a Covid-19 disponível no mais breve tempo possível.

Como parlamentar, defendo e apoio a ciência e o uso da inovação e da tecnologia na saúde, e sinto muito orgulho do papel que São Paulo teve nisso, bem como da resposta do Governo Federal a essa emergência.

O Brasil, que já era referência mundial em vacinação, mais uma vez se colocou em posição de destaque. Foram mais de R$ 20 bilhões investidos no desenvolvimento e na aquisição de vacinas. Nos próximos meses, a Fiocruz passará a produzir a primeira vacina totalmente nacional.

São Paulo, um dos estados com mais vacinados, já tem 90% da população com duas doses completas. A marca de mais de 300 milhões de doses aplicadas em todo o Brasil é extraordinária, mas ainda insuficiente. Precisamos avançar.

Não apenas tomei a vacina, como tenho incentivado as pessoas com as quais me relaciono a se vacinarem. A segurança sanitária e a recuperação econômica e social do País dependem da vacinação completa da população. Não haverá economia sem vacina. E sem recuperação econômica, a crise social instaurada se aprofundará ainda mais.

Acredito que poderíamos estar mais avançados se esse tema não tivesse sido tão politizado, e entendo que nossa maior liderança política, o presidente Bolsonaro, poderia ter contribuído para a aceleração da vacinação caso tivesse se vacinado e incentivado a população. Por outro lado, sob seu comando, o governo foi buscar as vacinas.

Embora seja um defensor da vacinação, sou contra o passaporte vacinal ou passaporte sanitário. Ninguém deve ser obrigado a tomar vacina. Quem não quiser tomar vacina e for a um local em que a comprovação da vacina se fizer necessária, deve ter o direito de apresentar um teste PCR atualizado, que é ainda mais seguro para todas as pessoas. Temos que simplificar as coisas sem abrir mão da segurança e do respeito ao direito de todos – de quem não quer ou não pode se vacinar e de quem se vacinou e quer estar num ambiente em que se sinta confortável com a segurança sanitária.

Assim como Hamlet, estamos diante de uma grande reflexão entre a vida e a morte. Na época de Shakespeare, quando a morte batia à porta, a vacina não era uma opção, e a peste e suas variantes varreram boa parte da humanidade. Hoje, enfrentamos o vírus, as variantes e as variáveis. As variáveis são, às vezes, mais prejudiciais do que o vírus e suas variantes. Quase sempre as variáveis são políticas e não levam em conta a vida, mas as próximas eleições, infelizmente.

Artigo publicado originalmente no portal Poder 360

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